Wednesday, January 17, 2007

Caricaturas Crónicas 28

TOURADAS
Por: Osvaldo Macedo de Sousa

Mudam-se os tempos, mudam-se as formas de pegar nas coisas, que os cornos da vida são sempre os mesmos. Fala-se pois de touros e touradas, um círculo da vida onde uns são farpeados e outros triunfadores com direito a rabo, orelhas e demais prémios. Fala-se mesmo em tourada à «antiga portuguesa» como se a tradição fosse sermos toureados por gosto pelos governantes.
As pegas são, segundo dizem os entendidos, uma arte bem portuguesa como orgulho rácico de enfrentar olhos nos olhos o touro que investe, só que os investimentos não são muitos e raros os progressos nacionais. A pegar de cernelha é especialista o caricaturista, que não se recusa de olhar de frente o touro utilizando tudo o que lhe vem às mãos, e à cabeça. por não ser supersticioso de cornadura, para espetar uma tantas farpas no lombo do Poder. A tourada é certamente um campo com vasto pano para as suas faenas.
Duas formas há, de ir à tourada caricatural: o jogo político; e o humor da real tourada, mesmo quando é já república, A tourada como política foi inspiração vária para os tempos da monarquia, em que os caricaturistas decompuseram todas as artes e jogos possíveis, para apresentar os eternos problemas políticos das formas mais variadas, e sempre «novas», porque é na origilidade cénica que as eternas críticas se renovam.
Novas não eram as eleições, e cada vez mais difíceis as compras do voto: «Lamentações de um Forcado: - Chamei-o. Ele bufou, e doeu-me aqui... tornei a chamá-lo. Deu terra, e, em seguida... Ensarilhou comigo. Levei d' aqui assim... Mais d'aqui... E lá. Estou pronto! – 2$500 pelo voto de cada um, e levem-me para a Câmara de Deputados. Pega por pega prefiro pegar na questão de fazenda.» (Raphael Bordallo Pinheiro. in «António Maria» de 9/9/1880.)
Se os toureiros são sempre vencedores, não é desses que reza a nossa história, com nomes sempre mudados, enquanto que o touro, o sacrificado, é sempre o mesmo. Pode aparecer seja como a nação quando «trabalhada» por cavaleiros como a «Inglaterra», a «Alemanha», a «Espanha»… seja como Zé quando é o Governo a farpear com o eterno «deficit»: «Um diestro afamado, um artista, N' uma bela arrogância se apruma. Mas, fugindo manhoso da pista. Há vinte anos não faz coisa alguma.»
«Esse «touro» (deficit), que atroz nos persegue. Muita vez tem jurado matál'o. Mas apenas com arte consegue. Dar-lhes carnes, vigor e engordá1'o». (Nogueira, in «Os Pontos» de 24/5/1903).
Os tempos mudaram, os problemas políticos, sendo quase os mesmos, não podem ter o mesmo tratamento, por «superstição» dos políticos novos - «Então o teu marido não veio á tourada? - Não, mete-lhe impressão ver morrer os cornupetas...» (Stuart, in «Sempre Fixe» de 18/8/1927).
Perante tais condições político-sociais, o humor passa ao simples anedótico - «Meu irmão toureou tão bem na última corrida, em Elvas, que até veio o retrato dele a meio corpo nos jornais.» «- A meio corpo?!» « - Sim... a outra metade ficou na enfermaria.» (Stuart, in :«Sempre Fixe» de 9/10/1941).
É que quem vai á luta dá e leva, e é mesmo caso para o touro, que se pode chamar Zé, exclamar: «- E chamam a isto uma... sorte!» (Stuart, in «Sempre Fixe» de 3/10/1929).





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